Do bairro de lá, Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, encontro particularidades próximas às realidades do bairro de cá, da cidade de cá. Afirmo ao ler “Ô Copacabana!”, onde logo de cara o João Antônio solta a frase “Os homens, lá em cima, mexem os pauzinhos, sapecam leis e nos aplicam os espetos. Ficamos sambados, prejudicados, lesadinhos.” Uma porrada suficiente para arrematar o meu coração libertário, conduzir meus olhos por suas narrativas.
No primeiro momento você poderá imaginar o livro como libelo esquerdista produzido na década de 1970, ainda mais quando pinço a frase no parágrafo anterior, deixe de lado essa bobagem. Ao menos que você deseja reduzir à condição de “subliteratura” por encontrar qualquer fragrância política nas linhas do autor, caso seja assim é melhor fechar as páginas de qualquer livro. Afinal, vida e arte são cruzadas com a política, sem chance de separação, até mesmo nos escritos dos baluartes da pós-modernidade não conseguiram a proeza. Sim, afirmo a impossibilidade da separação.
A escrita de João Antônio está composta por traços populares, do dia a dia. Faz da literatura um palco do vocabulário de um canto da cidade do Rio de Janeiro, o bairro Copacabana, cortando os mais variados sotaques daquelas bandas, do gringo ao nordestino ao sulista, que faz do lugar um ambiente de diferentes vivências para o branco ao negro, do gay gringo ao gay pobre e sofrido, da madame fresca com o cãozinho ao tiozinho solitário, dos meninos de rua as crianças bem tratadas, dos errantes de terno e gravata na praça pública, da ida ao mercado numa noite de excessivo calor, aos garotos de cabelos queimados do sol até as garotas de olhos bem abertos aos salva-vidas e assim vai. Quando o conflito é sutil ou brusco, os espaços privados ou públicos têm utilizações diversas de acordo com a temporalidade, sem existir a necessidade de uma placa indicando o que está e o que não está permitido. As regras de convivências são invisíveis, justamente onde a oficial “sacanocracia” do prefeito, “que ninguém votou nele”, poderá violentar as regras do bairro, mas não conseguirá destruí-las.
“E no bairro, como na nossa cidade, só cantamos as glórias. Do fiasco, ninguém fala.” É uma frase categórica para dizer que a cidade como um todo, não deve ser tratado como um ar romanceado, distraída das suas realidades contraditórias, em determinados aspectos é preciso dar uma porrada na cara e na seqüência – ou até semanas depois – levar uma bordoada sem tamanho, sem deixar a clareza que o papel de dar o tapa é nosso, das pessoas.
Nos caminhos do Bairro nos portamos como um torcedor, que segundo João Antônio “Ao torcedor, parece não interessar, no fundo, ganhar ou perder. O que conta é o sofrimento. Não se trata de um homem a serviço de um sonho, ideal ou missão. É um homem a serviço da paixão. Um prisioneiro.” Enquanto, é preciso buscar uma ponte entre a paixão e os sonhos, onde nossos pés estejam cravados em nossos lugares de vida.
Ao concluir a leitura do livro pairam nas minhas divagações como é complicadíssimo articular paixão as linhas acadêmicas para discutir criticamente a nossa realidade, pois para a ciência acadêmica tem a necessidade desapaixonar, mesmo o que é mais caro ao acadêmico. João Antônio ao problematizar-polemizar o tema do Bairro e da cidade vai à contramão de todo academicismo, nos oferece de lambuja a literatura como a melhor saída para fazer a discussão, sem respostas certeiras, somente doses necessárias de questionamentos e reflexões sobre o bairro de lá e de cá.
Texto que nosso amigo Maikon Duarte cedeu para o blog.
Muito obrigado!
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quarta-feira, 2 de abril de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
Dica do capitão: obra de Paulo Francis sobre golpe de 64 traz reflexão atual
Paulo Francis publicou “Trinta anos esta noite” em 1994, trinta anos após o golpe que depôs o presidente João Goulart e lançou o Brasil à sua ditadura mais cruel: a civil-militar (1964-1985). Hoje, vinte anos depois da publicação e cinquenta após o golpe, a obra autobiográfica da “fera”, como aqui chamado por Geneton Moraes Neto, se mostra uma importante reflexão para os dias atuais.
Compre o livro aqui
Polêmico, controverso, Paulo Francis foi um dos jornalistas mais lidos e comentados do Brasil. Talvez o número um nesse ranking. Escreveu para jornais durante quase toda a vida, com um estilo ferino, que não poupava ninguém. Levou o estilo para a TV nos anos 1980, quando se tornou comentarista político da TV Globo.
Alguns biógrafos dizem que a posição política de Francis variou da esquerda para a direita durante a vida. Não é a impressão que tive ao ler o livro. Se na primeira fase da carreira tinha posições mais à esquerda, era como uma reação ao poder, de direita. Se na fase final era reconhecido por suas posições à direita, isto também se caracterizava por uma certa ojeriza às estatais, ao Partido dos Trabalhadores e seu candidato à presidência, Lula. Mas repito: impressão minha.
Cresci tendo Paulo Francis como uma referência negativa em termos de jornalismo e discordo de inúmeros posicionamentos do autor. No entanto, o considero fundamental e indico a leitura por algumas questões. Primeiro, é preciso conhecer a história, e Paulo Francis faz parte da história do jornalismo brasileiro. Segundo, o estilo do escrita de Paulo Francis é magnífico. Curto, direto, de uma clareza impressionante, o texto de Paulo Francis é uma aula de como escrever bem.
O terceiro motivo para ler Paulo Francis, especialmente “Trinta anos esta noite: O que vi e vivi”, é conhecer parte da história do Brasil pela versão de alguém que viveu e teve acesso a inúmeros acontecimentos do período, que conversou com presidentes, generais, jornalistas, artistas e empresários que fizeram a história do país. Nesse aspecto, chama a atenção a reflexão que considero crucial apresentada pelo livro: o que seria do país sem a ditadura civil-militar? Li “Trinta anos esta noite” como um lamento sincero sobre aquilo que o Brasil é o que poderia ter sido.
“Trinta anos esta noite” condena o golpe militar à lixeira da história. Obra importante em dias como hoje, nos quais a ignorância da história permite que tantos defendam o regime militar e que alguns até torçam pela sua volta.
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Polêmico, controverso, Paulo Francis foi um dos jornalistas mais lidos e comentados do Brasil. Talvez o número um nesse ranking. Escreveu para jornais durante quase toda a vida, com um estilo ferino, que não poupava ninguém. Levou o estilo para a TV nos anos 1980, quando se tornou comentarista político da TV Globo.
Alguns biógrafos dizem que a posição política de Francis variou da esquerda para a direita durante a vida. Não é a impressão que tive ao ler o livro. Se na primeira fase da carreira tinha posições mais à esquerda, era como uma reação ao poder, de direita. Se na fase final era reconhecido por suas posições à direita, isto também se caracterizava por uma certa ojeriza às estatais, ao Partido dos Trabalhadores e seu candidato à presidência, Lula. Mas repito: impressão minha.
Cresci tendo Paulo Francis como uma referência negativa em termos de jornalismo e discordo de inúmeros posicionamentos do autor. No entanto, o considero fundamental e indico a leitura por algumas questões. Primeiro, é preciso conhecer a história, e Paulo Francis faz parte da história do jornalismo brasileiro. Segundo, o estilo do escrita de Paulo Francis é magnífico. Curto, direto, de uma clareza impressionante, o texto de Paulo Francis é uma aula de como escrever bem.
O terceiro motivo para ler Paulo Francis, especialmente “Trinta anos esta noite: O que vi e vivi”, é conhecer parte da história do Brasil pela versão de alguém que viveu e teve acesso a inúmeros acontecimentos do período, que conversou com presidentes, generais, jornalistas, artistas e empresários que fizeram a história do país. Nesse aspecto, chama a atenção a reflexão que considero crucial apresentada pelo livro: o que seria do país sem a ditadura civil-militar? Li “Trinta anos esta noite” como um lamento sincero sobre aquilo que o Brasil é o que poderia ter sido.
“Trinta anos esta noite” condena o golpe militar à lixeira da história. Obra importante em dias como hoje, nos quais a ignorância da história permite que tantos defendam o regime militar e que alguns até torçam pela sua volta.
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Escritora joinvilense volta-se à infância para discutir bullying
A "garota distraída" Vanessa Bencz Foto: Material de divulgação |
Relato do Sol
Memórias de uma jornalista distraída
A temática do novo trabalho é o “bullying”, uma palavra nova para uma prática bastante antiga, que deixou marcas em muitas crianças, como a própria escritora, que resolveu contá-las depois de participar de bate-papos com estudantes. A troca de experiências com crianças e adolescentes gerou cumplicidade e algumas das histórias reais vividas por eles serão contadas no novo projeto. Na parte técnica, Vanessa se juntou aos designers e ilustradores Fabio Ori e Denny Fischer.
Nova personagem, novo formato e também uma nova forma de financiamento. Vanessa quer bancar a obra por meio de financiamento coletivo online, que será aberto a partir do dia 6 de março. Saiba mais sobre o novo trabalho de Vanessa Bencz na entrevista abaixo:
Você está lançando um novo projeto, com uma nova temática, que é o "bullying". Conte-nos, por favor, como chegou até ele e porque decidiu investir nesse projeto.
Eu demorei para entender que sofri bullying na adolescência. É engraçado porque, quando as coisas não tem nome, elas vivem em uma dimensão abstrata e vaga. Quando essa palavra começou a pipocar na imprensa e na boca dos professores e psicólogos é que eu entendi. Quando comecei a pensar sobre a expressão “bullying”, levei um susto. De repente, me vi vítima. E eu não gosto desse papel, porque geralmente é carregado de fraqueza e submissão. E eu não me considero nada disso. Quando lancei meus livros, em 2012, comecei a visitar as escolas públicas de Joinville para falar sobre literatura. Mas a coisa cresceu, e literatura era apenas uma desculpa para começar o papo. E o tema que mais sensibilizava os alunos era o tal do bullying. É uma ferida aberta – e acredito que sempre vai estar aberta, até que as escolas tenham uma postura mais responsável e ativa sobre isso. Por isso, resolvi que ia me abraçar nesse tema e elaborar uma ferramenta para discussão nas escolas. Foi assim que “Menina Distraída” surgiu.
Fazendo um caminho inverso ao da Turma da Mônica (que agora narra as histórias dos seus personagens na fase adulta), você vai lançar a Menina Distraída. A nova personagem é a fase infantil da Garota Distraída? E o que a nova personagem tem da Vanessa Bencz?
Sim, trata-se de uma fase mais infantil da Garota Distraída. A protagonista, chamada Leila, tem 14 anos, treina kung fu, ama desenhar e vive com a cabeça no mundo da Lua. Eu coloquei na história muitos elementos da Vanessa; mas outros eu desenvolvi para deixar a história mais divertida e motivacional, sem deixar também de ser pura fruição. Eu resolvi abordar essa fase pré-adolescente da minha vida porque foi nela que ganhei muitas cicatrizes na minha auto estima. O professor que me chama de burra na frente de toda classe; o colega que se diverte com minhas provas rabiscadas de notas ruins. Tudo isso com certeza integra a minha personalidade hoje.
Personagens de "A Menina Distraída", que utiliza o formato de HQ para falar de bullying |
Por muito tempo eu achei que estudar jornalismo deixou a minha voz narrativa meio quadrada. Hoje acho que não; considero que apenas abriu mais um espaço dentro de mim. Eu sempre me senti mais confortável escrevendo informalmente e com os coloridos elementos da literatura. E confesso que entender a linguagem dos quadrinhos está sendo um baita desafio. Faz seis meses que comecei a estudar, pesquisar, ler, treinar, pedir ajuda. Talvez seja cedo para confirmar, mas tenho a suspeita de que a narrativa visual está me encantando mais do que eu imaginei que aconteceria. Mesclar diálogos e narrativas junto ao desenho está sendo um processo apaixonante. Quando eu era criança, meu sonho era escrever e desenhar uma HQ. A coisa morreu na pré-adolescência e, desde então, havia desistido desse objetivo. Agora, sinto que estou passando por um processo parecido com um ciclo, parecido com aquele ditado popular “o mundo dá voltas”.
Voltando ao tema, podemos perceber que essa experiência em salas de aula e o convívio com as crianças influenciou bastante o trabalho. Como foi esse envolvimento com as crianças, da tua parte e da parte delas? E há histórias reais que serão contadas pela Menina Distraída?
Eu caí de paraquedas nesse lance de fazer bate-papo com as turmas. As professoras Mariza Schiochet e Jozi Fleck me convidaram em 2012 para conversar com as turmas. Fui sem expectativas. Tanto, que eu não sabia nem o quê ia falar com aqueles estudantes. Não tinha preparado nada. Lembro bem da primeira vez que conversei com uma turma. A turma foi chegando, bem barulhenta, e foi se sentando nas cadeiras da biblioteca pequena. Aos poucos foram silenciando e ficavam me olhando com curiosidade. Pensei: “e agora? O que eu falo para eles?” Percebi que eles estavam intimidados, porque fui apresentada como “a escritora”, “a jornalista”. Apelei para a empatia para eles se sentirem próximos de mim. Comecei a contar sobre como foi a minha trajetória como estudante. As notas baixas que tirei, as humilhações que passei. Eles ficaram muito interessados, fizeram muitas perguntas e quiseram conversar em particular comigo. Foi uma reação bem inesperada. As professoras gostaram tanto, que outras escolas ficaram sabendo e me chamaram para fazer a mesma atividade. Uma coisa bem recorrente era ser adicionada por esses estudantes no facebook. Eles vinham me contar as histórias deles. Diziam que por algum motivo sentiam confiança em mim. Ouvi histórias absurdas, revoltantes, que me fizeram perder o sono e a tranquilidade. Selecionei três histórias e as inseri na “Menina Distraída”, como se fossem dos colegas da protagonista.
Muita gente não aceita o "tal do bullying". Dizem que quando era crianças também enfrentavam gozação e hoje estão firmes e fortes. O que você acha sobre isso?
É verdade, ouvi muita gente falando que também viveu “zoações”, e que nem por isso se sentiam abaladas. Pelo contrário: alguns disseram até que havia sido saudável. Um amigo meu chegou a dizer que o tal do bullying deixava as pessoas mais fortes, com mais personalidade. Absurdo, né? Eu acho que existe um fenômeno de negação; algumas pessoas parecem não conseguir abrir a cabeça para entender e se sensibilizar. Eu acredito, sim, que a palavra foi banalizada. Qualquer coisinha já é diagnosticada como bullying. Mas não é bem assim: o bullying é uma agressão repetitiva, cruel, do mais forte para o mais fraco, e começa sem motivo nenhum. A pessoa ser gordinha, usar óculos, ter sardinhas ou ser negra já é “motivo” para que seja zoada até se sentir deslocada de todo um convívio. Meus amigos me mandaram depoimentos chocantes sobre isso. Alguns, como vítimas. Outros, como agressores arrependidos. O bullying, quando sobrevive e vai para as empresas, é chamado de assédio moral. E o assédio moral tem graves conseqüências, ele é o bully que não foi combatido.
O que você espera como resultado desse novo trabalho?
Em primeiro lugar, espero que os leitores – tanto os grandes como os pequenos – reflitam sobre o próprio comportamento. Espero que façam uma viagem de volta no tempo e lembrem do estudante que foram, de como viam o mundo, de como se relacionavam com as diferenças. Espero que pais e mães vejam esse trabalho e queiram mostrar para os filhos, dizendo: “olha só, essa menina foi vítima de bullying, sofreu poucas e boas, tirou notas baixas, falaram que ela não seria nada, e ela fez essa HQ muito maneira”. Eu espero, também, mobilização por parte das escolas. Quero que o professor, o coordenador, o diretor vejam o trabalho e pensem: “ótimo, agora temos mais um motivo para falar desse assunto”. Eu entendo que um bully não tem noção de que ele é um bully. Por isso, estruturei a história de uma maneira para que ele também se sinta acolhido e saiba que tudo passa.
Você pretende bancar o projeto por meio de financiamento coletivo online, que é uma forma recente de possibilitar a execução de projetos independentes. Por que optou por essa forma de financiamento?
Primeiro, porque eu não tenho dinheiro para bancar esse projeto sozinha. Segundo, porque não quero esperar o apoio de uma editora. Terceiro, porque eu sou imediatista. Eu poderia esperar o simdec – é o meu plano, se o Catarse não der certo. Mas quero tudo para ontem. Hehe! Foi a jornalista Amanda Miranda que me mandou uma matéria falando sobre financiamento coletivo e eu não me acalmei até estabelecer essa meta.
O foco é total na Menina Distraída ou você já está com novas ideias para desenvolver no futuro?
Estou com mil ideias. No momento, realmente a minha prioridade é produzir a “Menina Distraída” e realizar o desdobramento junto às escolas. Fora isso, estou com mais uma ideia de HQ, outra de livro e outra de um curta metragem.
Liste, por favor, cinco livros que foram fundamentais para você e que você recomenda aos nossos leitores.
Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez
A Louca da Casa, da Rosa Montero
A Soma dos Dias, da Isabel Allende
O Filho Eterno, do Cristóvão Tezza
Maus, do Art Spiegelman
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Dica do capitão: para conhecer a fundo a questão agrária
Cartaz oficial do 6º Congresso Nacional do MST |
Em 2013, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) completou 30 anos. Criado a partir da luta popular pela reforma agrária e contrário ao agronegócio, o movimento social é um dos maiores do mundo e se desenvolveu na contramão do planeta, cada vez mais neoliberal nas últimas décadas. Ao contrário, os militantes do MST se organizaram a partir de princípios de distribuição e colaboração.
O movimento que surgiu no sul do país se considera herdeiro das resistências brasileiras, como as indígenas contra os portugueses, de Canudos contra o Estado, dos Quilombos e das Ligas Campesinas. Exerceu papel importante na constituição de 1988, quando foi aprovada a desapropriação de terras que não cumprem função social. Dos episódios trágicos de sua história, está marcado o massacre de Eldorado dos Carajás (PA), em 1996, quando 19 sem-terras foram assassinados pela polícia paraense. Além disso, muitos outros assassinatos ocorreram na luta pela terra, financiados por aqueles que vêem seus privilégios ameaçados.
Pela importância desse movimento, o capitão Barba Ruiva recomenda um dos seus principais tesouros – a coleção “A questão agrária no Brasil”, dividida em sete volumes. Com esta série organizada por João Pedro Stedile e publicada pela editora Expressão Popular, o leitor ampliará sua visão sobre essa questão de tamanha importância.
Volume 1 - O debate tradicional 1500-1960
Volume 2 - O debate na esquerda 1960-1980
Volume 3 - Programas de reforma agrária 1946-2003
Volume 4 - História e natureza das Ligas Camponesas 1954-1964
Volume 5 - A classe dominante agrária: natureza e comportamento 1964-1990
Volume 6 - O Debate na Década de 1990
Volume 7 - O Debate na Década de 2000
Volume 8 - Debate sobre a situação e perspectivas da reforma agrária na década de 2000
Cada exemplar custa apenas 20 reais.
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terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Por que grandes livrarias ou Por que abri uma loja de livros?
Por mais de um ano, fui vendedor em uma grande rede de livrarias, em Joinville, Santa Catarina, e querendo ou não aprendi muita coisa sobre o mercado livreiro e sobre os custos gerais de uma grande loja. Minha proposta aqui é discutir alguns pontos, vamos lá!
Nadando contra a corrente. - Um mercado de preços congelados:
Creio que as livrarias vão contra a corrente (que não é uma regra, claro), mas a maioria das redes do setor alimentício, vestimenta, lojas de decoração, materiais e departamentos costumam adotar estratégias de marcado baseadas em grande quantidade de vendas. Enxergo a coisa mais ou menos assim:
+lojas = +vendas = +clientes = menores preços.
Já as grandes livrarias, se multiplicam e os preços continuam estagnados, congelados, volta e meia você vê uma promoção ou outra que as diferencia. O preço tende sempre a aumentar na verdade (como em todos os setores, anualmente os reajustes vem, mas aqui de forma generalizada, sem uma politica de manutenção de alguns preços baixos). No próximo tópico discutiremos melhor algo que determina os preços.
Tudo aquilo que não é meu. - Mercadorias consignadas:
Mercadorias consignadas numa livraria funcionam basicamente assim: editoras ou distribuidoras enviam livros para sua loja, a custo zero, normalmente com uma porcentagem pré-determinada de lucros para cada parte após a venda do produto. Um exemplo simples seria um livro de R$ 100,00, consignado, 70% disso, ou 70 reais, vai para pagar a editora, e 30%, 30 reais, fica de lucro para a livraria, com praticamente zero de investimento (pensando de forma bastante rasa, sem contar custos operacionais e outros além). Normalmente as lojas podem alterar esse valor de venda, mas o valor a ser pago para a editora continua fixo. Digamos que esse mesmo livro seja vendido por R$ 85,00, 70 pagaria o produto e 15 ficaria de lucro, o que se torna pouco atraente para os lojistas que são movidos pelo lucro exacerbado, já que tendo em vista a enorme quantidade de exemplares vendidos por eles durante um mês, continuariam tendo uma bela parcela de lucro.
Também existem contratos onde o preço não pode ser alterado, o que explica a uniformidade dos preços em várias redes diferentes. Você procura na loja “x”, “y” e “z” e encontra apenas o mesmo valor R$ XX,90.
Um estoque próprio poderia ser a resolução desse problema, pois normalmente os descontos para compras à vista são maiores. Ao invés de pagar 70% pra editora, você paga 50-60%, o que possibilita vender o produto mais barato e tendo uma margem interessante de lucro. Mas isso requer um investimento que a consignação não pede, e pode ser perigoso em muitos casos, pois muitos livros não vendem, ou vendem pouco, e ter mercadoria que não vende não é vantagem para nenhum lojista. Sem falar que uma grande quantidade ostenta respeito numa livraria, afinal, quem não gosta de estar cercado por livros?
Pagando pela Torre de Marfim. – Aluguel e despesas gerais:
Grandes lojas, principalmente em Shoppings, tem um custo de aluguel bastante elevado. Chutando baixo, digamos que o aluguel custe 20 mil reais. E a conta de luz? Todas aquelas “300” lâmpadas, ar condicionado (que só o equipamento custa em média 80-100 mil reais), sistema de vigilância, computadores e tudo mais. Digamos que a conta de luz custe mais uns 3-4 mil reais. O que mais? Custos com telefone, manutenção da loja e uma avalanche publicitária. Dinheiro para ágar tudo isso sai dos produtos, o que também explica os altos custos. Mas e os funcionários, quanto ganham? Normalmente um salário fixo (base de comércio) +1% de comissão (em média, o valor pode variar um pouco as vezes, mas fica entre 0,8% e 1,2%). Isso quer dizer que o seu simpático atendente, aquele que sabe tudo sobre livros, aquele cara bacana e bem educado! Então, ele precisa vender 100 mil reais por mês, para ganhar mil de comissão. Além é claro, de ser diariamente cobrado para bater suas metas.
Ambiente agradável ou território hostil? – O bem estar do cliente:
Móveis amadeirados, piso de mármore, ambiente climatizado, belos abajures, mesas e vários sofás confortáveis para você se sentar e degustar seu livro tranquilamente em meio a um mar de prateleiras de madeira trabalhada que te lembram duma clássica biblioteca. Será mesmo? Será que todo cliente quer pagar pelo ambiente? Ou será que ele quer apenas comprar um livro?
E pra quem gosta do ambiente? Não se engane meu amigo, se você ficar mais de 10 minutos sentado ali, lendo um livro, com certeza uma das câmeras de monitoramento estará bem atenta a você, afinal, a qualquer momento o livro pode voar para dentro da sua bolsa!
Perdi as contas de quantas vezes fui chamado pela gerente da loja com as seguintes instruções: fique de olho naquele cara! Então você olha, ou era um barbudo de chinelo, ou um negro, ou pior, um negro tatuado! Então fique atento, se você for negro, índio, tatuado, fedido, andar de chinelo, estiver “malvestido” ou aparentar ser pobre, você será vigiado por pessoas e câmeras, e estará num ambiente hostil. E pior, estará pagando para sustentar um ambiente hostil a você.
Encomendas, encomendas e... Encomendas. – Um gigantesco estoque de quase nada.
As estantes continuam lá, entupidas de livros, mas é engraçado como muitas vezes você não encontra o que quer. Não vou me aprofundar muito nesse tema, porque ele abre leques muito grandes sobre gostos e qualidades de literatura. Mas o atual culto aos best-sellers acaba atochando as livrarias com poucos títulos e grandes quantidades. Se não estiver procurando os campeões de vendas, suas chances de voltar pra casa de mãos vazias são bastante grandes.
Finalizo assim o texto e deixo no ar uma reflexão. Pelo que os leitores estão pagando? Será mesmo que vale a pena?
Inevitavelmente isso será um merchandising, mas venho convida-los a conhecer a Barba Ruiva Livros, uma pequena loja que fundei em 2013, e busco oferecer bons preços em livros novos e usados. Uma nova estratégia que busca unir os amantes da leitura através das mídias sociais e de um ambiente físico pequeno, mas bastante acolhedor. E o mais importante, fornecendo livros mais em conta.
Um grande abraço do Capitão Barba Ruiva.
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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Rebeldia e Revolução! Confira as sugestões do capitão Barba Ruiva para questionar a ordem
Manifestação pela Tarifa Zero/Passe Livre, em Joinville (SC) Foto cedida por Adolfo Lindenberg Bonucci |
Não passamos nem uma semana em alto-mar e quando voltamos para a terra firme já está tudo pegando fogo.
Posso saber por que não avisaram o capitão? Até parece que não sabem que esse velho lobo é um adepto da rebeldia! Não deixem os piratas de fora dessa!
Mas, tão importante quanto estar na rua, é ler sobre o assunto para não ficar à deriva no meio da manifestação e do debate. A história é rica nesse assunto. Afinal, como diria outro barbudo famoso, a própria história é a história da luta de classes! Portanto, conhecê-la é fundamental para questionar a ordem vigente.
Por isso, o capitão separou algumas das obras que temos no navio para oferecer pra vocês:
Ocupe!
Os movimentos “occupy” tem marcado o início desta década. No Egito ou na Turquia, nos Estados Unidos ou no Brasil, os movimentos de ocupação certamente entrarão para a história das lutas populares e serão objetos de estudo acadêmico. Uma das obras que foi publicada no calor dos movimentos foi o livro Occupy: movimentos de protestos que tomaram as ruas, da Boitempo Editorial, que reúne artigos de pensadores como Slavoj Žižek e David Harvey. Nessa nova fase de manifestações populares vale dar uma olhada em um movimento recente que faz parte da origem dos atuais.
Fotografia de parte do mural "Do Porifiriato à Revolução", de David Alfaro Siqueiros, localizado no Museu Nacional de História da Cidade do México. |
Se é para mergulhar na história, vale a pena buscar referências em algumas das revoluções mais marcantes, como a Revolução Russa de 1917 e a Revolução Mexicana ainda em marcha.
Clássicos
Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo e Bakunin são alguns dos autores clássicos da literatura de esquerda. Passar por eles é importantíssimo para a formação dos militantes, dessa galera nova que está fazendo acontecer nas ruas. Assim, o pirata recomenda o livro Marx, Engels, Lenin: a história em processo, do pensador brasileiro Florestan Fernandes, bem como A ideologia alemã, de Marx e Engels, e O Estado e a Revolução, de Lenin.
Crítica ao capitalismo
Para lutar por um novo modelo econômico e social é interessante saber fazer a crítica ao atual. O capitão Barba Ruiva é um dos críticos, tanto que montou este negócio, cujo objetivo é poder viver numa lógica na qual o lucro não é a coisa mais importante. Por isso vendemos livros mais baratos aqui.
Algumas obras disponíveis no navio acerca do assunto são O Brasil Real: a desigualdade para além dos indicadores, organizado por Alexandre de Freitas Barbosa; Capitalismo: crises e resistências, organizado por Andreia Galvão; e Capitalismo industrial e multinacionais brasileiras, de Eliseu Saverio Spósito e Leandro Bruno Santos.
Alusivo ao livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell |
Algumas obras de ficção se tornaram clássicos, tamanha a profundidade política que alcançaram. Alguns exemplos que temos no navio: A Revolução dos Bichos, de George Orwell; o clássico beat On the Road, de Jack Kerouac; e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
Dica preciosa do capitão
A arte do combate: a literatura alemã em cento e poucas chispas poéticas e outros tantos comentários, de Marcelo Backes, é um tesouro literário, que reúne os mais importantes autores da língua alemã. Imperdível.
Esses são apenas alguns exemplos. Entre no navio do pirata (loja virtual) e navegue pelos mares do conhecimento. Não esqueça que também aceitamos pedidos e procuramos a opção mais em conta para você.
Depois disso, saia do Facebook vá para a rua fazer política de verdade!
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Breaking Barba
Desacreditado na vida, um homem decide usar seus conhecimentos para vender algo poderoso, que mexe com a mente das pessoas. Nessa empreitada, ele vai precisar da ajuda de um velho conhecido para distribuir a mercadoria.
Não, essa não é a história de Walter White, protagonista da série pop-hipster do momento Breaking Bad, e a mercadoria não é metanfetamina. Essa é a história de Fernando Koenig, que tem ficado mais conhecido nos últimos tempos como o Capitão Barba Ruiva.
Indignado com a regras do trabalho assalariado, Fernando decidiu abrir a loja Barba Ruiva Livros, vendendo livros mais baratos do que as livrarias tradicionais. E para isso a lógica era simples: diminuir o lucro. Assim, com uma margem de lucro pequena, e abrindo mão de sua biblioteca pessoal, Fernando deu início à Barba Ruiva Livros.
O lançamento deste blog é uma segunda etapa dessa empreitada. O objetivo é tornar a loja mais conhecida e atrativa, e acreditamos que investir em conteúdo é fundamental neste processo. Fundamental e bem mais legal. Para isso, o Fernando vai contar com a minha ajuda, Felipe Silveira (Felps).
Esperamos que vocês gostem dos conteúdos, curtam, compartilhem e eventualmente comprem com a gente:
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Um abraço do marujo amigo Felps e do capitão Barba Ruiva.
Não, essa não é a história de Walter White, protagonista da série pop-hipster do momento Breaking Bad, e a mercadoria não é metanfetamina. Essa é a história de Fernando Koenig, que tem ficado mais conhecido nos últimos tempos como o Capitão Barba Ruiva.
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Capitão Barba Ruiva e Marujo Amigo Felps - Foto: Jéssica Michels |
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